Inventores de sucesso

Inventores sabem, intuitivamente, que a criatividade é um dos atributos essenciais de sua atividade. A sociedade sempre produz certos indivíduos criativos ao longo do tempo, entretanto, poucos são aqueles que conseguiram materializar essa aptidão em algum benefício prático na forma de invenção. Assim, as grandes invenções que temos presenciado ao durante o tempo e das quais temos usufruído, foram concebidas em, relativamente, poucas mentes.

No Brasil, encontramos um bom número de inventores. Alguns destes criadores produziram uma grande quantidade de patentes. Um dos mais conhecidos, devido à uma de suas muitas invenções, o Bina, foi Nélio José Nicolai, falecido recentemente (2017) e autor de pelo menos 44 patentes depositadas ao longo de seus 77 anos de vida.

Nélio, natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, e filho de imigrantes italianos mudou-se para Brasília na década de 1970 para trabalhar na antiga Telebrasília. Foi lá que um de seus vizinhos, que pertencia ao corpo de bombeiros, lhe pediu um favor; inventar uma maneira de identificar o autor de trotes que a corporação recebia frequentemente. Foi então que nasceu a ideia do Bina, nome dado por Nélio, que significa B Identifica Número de A. Em 1992 ele depositou a patente “Equipamento controlador de chamadas e do terminal de chamadas do usuário” que foi concedida em 1997.

Nélio também foi autor de outras patentes, como o “Salto”, sinal de advertência em chamada entrante para terminal ocupado, que foi depositada no mês seguinte ao Bina.

Filho mais novo de quatro irmãos, Nélio formou-se como técnico em eletrotécnica e desde muito jovem revelava propensão e interesse em criar utilidades a partir de elementos já conhecidos.

Durante sua vida recebeu uma série de homenagens oficiais de diversas instituições como a WIPO, de quem recebeu uma medalha de ouro e um certificado e um selo do Ministério das Comunicações, Medalha Roberto Simonsen de patrono da indústria e entregue pela FIESP, Medalha do Mérito de Santos Dumont, Selo comemorativo dos correios, entre outros.

Nélio José Nicolai faleceu em Brasília, 11 de outubro de 2017.

Outras áreas do conhecimento também produziram grandes inventores no território nacional, como Félix Cornejo que é pesquisador formado na Unicamp e realiza pesquisas pela Embrapa. Até 2016 Cornejo já possuía 13 patentes na área de pesquisas de alimentos, particularmente em desenvolvimento de parâmetros e equipamentos para desidratação de frutas. Uma das últimas patentes depositadas por Félix foi de um modelo de software para secadores de alimentos. Equipamentos para secagem de alimentos tem recebido uma parcela importante de investimentos da Embrapa com o propósito de preencher necessidades do mercado nacional com relação ao processamento de certos produtos. Um bom exemplo desses desenvolvimentos são os equipamentos para secagem e produção de uvas-passas. O equipamento é construído em material inoxidável com dispositivos que asseguram a qualidade do produto por meio da uniformidade nos parâmetros de produção, como umidade, e do produto final.

O equipamento deve atender à demanda da indústria nacional que atualmente precisa importar tais equipamentos.

Outro importante inventor, que também é empreendedor, é Matheus Rodrigues. Matheus é o fundador da empresa Máquinas Man, localizada em Marília e especializada em produtos cerâmicos. Entre 1999 e 2008 foi a pessoa física que mais pedidos de patente depositou no país, totalizando 74. Matheus desenvolveu várias melhorias em suas máquinas para produzir tijolos na Man ao longo dos anos 2000. Rodrigues, entretanto, trabalhou no campo até os 17 anos de idade, quando notou que tinha aptidão para criar, particularmente, máquinas. Trabalhou como metalúrgico durante um grande período da vida em Marília até ser contratado pelas montadoras Volkswagen e General Motors onde atuou como projetista e ferramenteiro. Matheus fez curso de projeto e ferramentaria em São Caetano até, finalmente, voltar a Marília. Uma vez de volta à sua cidade natal, abriu a MAN, nome de sua empresa que é composto por sua inicial e de seu irmão, Antônio. A empresa, na época, foi uma das pioneiras em projetos para o mercado cerâmico. A maior parte das máquinas produzidas pela empresa foi projetada pessoalmente por Matheus. São várias centenas de projetos de máquinas já feitos e que incluem máquinas para olaria, cerâmica, cimento, máquinas para padarias e vários tipos de farinha.

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Uma das invenções mais simples, práticas e amplamente utilizadas hoje em dia é o lavador de arroz. Therezinha Beatriz Alves de Andrade Zorovich tinha que lidar diariamente com o problema de, ao cozinhar, ter seu ralo entupido com grãos de arroz. Foi então, em 1958, que ela se debruçou sobre o assunto para resolvê-lo. Criou então o conhecido escorredor de arroz, que é uma espécie de forma com uma base em formato de V no qual a parte menor da base é uma peneira. Vislumbrando o potencial econômico de tal criação, dirigiu-se, no dia seguinte, a um escritório de patentes para depositar seu pedido, cuja patente seria obtida 1963.

Ao notar que não possuía capital suficiente para produzir sua própria invenção em escala industrial, ofereceu-a a uma empresa que a recusou. Apenas mais tarde decidiu fazer uma última tentativa de oferecê-la a outra indústria, desta vez a Trol. Os projetistas da empresa perceberam o potencial do artefato e, em 1961, milhares de unidades já estavam à venda, gerando para Therezinha 2,5% de todas as vendas às lojas.

Naquele mesmo ano, Therezinha, que era dentista de formação, recebeu o prêmio de criadora do item mais vendido da Associação Brasileira de Supermercados. Em 1964, o utensílio já havia se tornado amplamente conhecido, o que permitiu à inventora melhorar seu contrato com a Trol e aumentar sua participação no valor das vendas para 8%.

Por conta de sua invenção, a dentista pode comprar uma casa de luxo e não parou de atender seus pacientes.

Internacionalmente, um dos inventores com o maior número de patentes é Kia Silverbrook, australiano nascido em 1958 e atualmente com 61 anos e residente em Sydney. Este inventor atingiu a marca de mais de 4700 patentes de invenção nos Estados Unidos e quase 10000 documentos de patente, entre patentes concedidas e pedidos de patentes depositados.

Kia também é empresário e foi fundador de várias empresas. Entre elas, uma empresa de pesquisa com centenas de empregados. Suas invenções estão basicamente no campo de softwares e tecnologias digitais. Em 2007 ele criou a sua mais famosa invenção, a Memjet, que é uma tecnologia de impressão coloridada e alta velocidade.

Silverbrook também foi diretor executivo da subsidiária de pesquisa da empresa japonesa Canon, na Austrália.

Durante sua carreira de inventor, Silverbrook também foi autor ou co-autor de diversos artigos científicos na área de sistemas moleculares em revistas científicas como Journal of Chemical Phisics, Chemical Phisics Letters e outros.

Shunpei Yamazaki é o maior inventor mundial da atualidade, em termos de patentes, atingindo a marca de mais de 5000 patentes de invenção em 2018. Sua área de atuação é ciência da computação e física do estado sólido.

Dr Yamazaki nasceu em 1942 e com 29 anos apenas, já havia criado dezenas de invenções entre elas a famosa memória flash. Ao superar Thomas Edison em número de invenções, em 2003, Yamazaki apareceu no Guiness Book. É o presidente do Laboratório de Pesquisas Semiconductor Energy Laboratory (SEL) em Tóquio. Em 1971, Yamazaki recebeu seu PhD da Universidade de Doshisha no Japão. Entre as invenções atribuídas a Shunpei destacam-se os transistores de filme fino, células solares, telas de cristal líquido, entre outras.

 

Um aparelho conhecido por todos e usado por muitos, atualmente, é o prosaico aspirador de pó. O britânico James Dyson, nascido em 2 de maio de 1947, foi pioneiro na concepção de um aspirador de pó que não utiliza sacos para armazenar a sujeira aspirada. Seu princípio é a separação ciclônica. Outra característica peculiar de seus aspiradores é de que são silenciosos. E caros. A ideia, que surgiu no final dos anos 1970, decorreu de sua percepção de que os aspiradores durante sua operação vão perdendo gradualmente sua capacidade de aspirar. Isso ocorre porque os poros dos sacos que retém a sujeira, paulatinamente, vão sendo obstruídos por partículas de sujeira, o que só é resolvido momentaneamente com a substituição de um saco novo, até que este também tenha seus poros obstruídos. O conceito proposto por Dyson é separar a sujeira por ciclonagem, sem a necessidade de um saco de filtragem, como é nos aspiradores convencionais. Com poucos recursos financeiros e auxiliado por sua esposa, Dyson lançou em 1983 o aspirador batizado de G-Force no Japão. Durante os anos que precederam o lançamento de sua invenção, Dyson já havia depositado uma série de patentes a ela relacionadas.

A experiência de ter sua invenção rejeitada por empresas em seu próprio país motivou o inventor a fundar sua própria companhia, a Dyson Ltda em 1991. Ao longo da década seguinte a empresa ganha o mercado britânico e norte-americano, assumindo a liderança deste último, em termos de valor de mercado da empresa. Vários outros fabricantes lançaram produtos baseados no produto de Dyson. Um dos casos mais famosos foi o da empresa Hoover que lançou um produto baseado no mesmo princípio revolucionário do aspirador de Dyson. Dyson processou a Hoover por infração de patente, alegando que esta havia copiado o produto daquela. A empresa de Dyson vence e é indenizada em 4 milhões de libras.

James Dyson tem uma série de outras invenções que abrangem máquinas de lavar, ventiladores sem pás externas e os famosos secadores de mãos vistos em banheiros de aeroportos, restaurantes, etc.

Atualmente Dyson é um bilionário que, inclusive, apareceu na revista Forbes como um dos homens mais ricos do mundo. Em uma de suas recentes declarações afirmou sua intenção de investir mais de 3 bilhões de dólares no mercado de carros elétricos, rivalizando com Elon Musk, o famoso criador dos carros elétricos Tesla.

Christian Slaughter

christian.s@mnip.com.br

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